mpartilhando elas; essas palavras que contam histórias alheias e ao mesmo tempo tão minhas. Não, acho que nem tão minhas. Mas alguma coisa me fez ler e reler Trovoa essa noite. (Acabo de desconfiar que é esse verbo que sempre me deixou na duvida; trovoar ou trovejar? Chegarei ao fim do domingo chuvoso sem saber (dispenso google), mas trovoando no céu e em mim.
E isso me faz sorrir agora, ora bolas!)
VIVA!
(Itálicos do poema = intervenções minhas)
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Trovoa
Minha cabeça trovoa
sob meu peito te trovo
e me ajoelho
destino canções pros teus olhos vermelhos
flores vermelhas, vênus, bônus
tudo o que me for possível
ou menos
(mais ou menos)
me entrego, ofereço (me ofereço)
reverencio a tua beleza
física também
mas não só
não só
graças a Deus você existe (eu diria graças aos deuses)
acho que eu teria um troço
se você dissesse que não tem negócio
te ergo com as mãos
sorrio mal
mal sorrio
meus olhos fechados te acossam
fora de órbita
descabelada
diva
súbita…
súbita…
seja meiga, seja objetiva
seja faca na manteiga
pressinto como você chega ligeira
vasculhando a minha tralha
bagunçando a minha cabeça
metralhando na quinquilharia
que carrego comigo
(clipes, grampos, tônicos):
toda a dureza incrível do meu coração
feita em pedaços…
minha cabeça trovoa
sob teu peito eu encontro
a calmaria e o silêncio
no portão da tua casa no bairro
famílias assistem tevê
(eu não) (nem eu)
às 8 da noite
eu fumo um marlboro na rua como todo mundo
e como você
eu sei.
Quer dizer
eu acho que sei…
eu acho que sei…
vou sossegado e assobio
e é porque eu confio em teu carinho
mesmo que ele venha num tapa
e caminho a pé pelas ruas da Lapa
(logo cedo, vapor… acredita?)
a fuligem me ofusca
a friagem me cutuca
nascer do sol visto da Vila Ipojuca
o aço fino da navalha me faz a barba
o aço frio do metrô
o halo fino da tua presença
sozinha na padoca em Santa Cecília
no meio da tarde
soluça, quer dizer, relembra
batucando com as unhas coloridas
na borda de um copo de cerveja
resmunga quando vêque ganha chicletes de troco
lembrando que um dia eu falei
“sabe, você tá tão chique
meio freak, anos 70
fique
fica comigo
se você for embora eu
vou virar mendigo
eu não sirvo pra nada
não vou ser teu amigo
fique, fica comigo…”
minha cabeça trovoa
sob teu manto me entrego
ao desafio de te dar um beijo
entender o teu desejo
me atirar pros teus peitos
meu amor é imenso
maior do que penso
é denso
espessa nuvem de incenso de perfume intenso
e o simples ato de cheirar-te
me cheira a arte
me leva a Marte
a qualquer parte
a parte que ativa a química
química…
ignora a mímicae a educação física
só se abastece de mágica
explode uma garrafa térmica
por sobre as mesas de fórmica
de um salão de cerâmica
onde soem os cânticos
convicção monogâmica
deslocamento atômico
para um instante único
em que o poema mais lírico
se mostre a coisa mais lógica
e se abraçar com força descomunal
até que os braços queiram arrebentar
toda a defesa que hoje possa existir
e por acaso queira nos afastar
esse momento tão pequeno e gentil
e a beleza que ele pode abrigar
querida, nunca mais se deixe esquecer
onde nasce e mora todo o amor
(Maurício Pereira)