quarta-feira, 19 de agosto de 2009

"Petite Histoire" daquele Barro. Parte II

Outra questão levantada por Lody, foi a inquietante;
Será que a Feira De Caruaru, deve mesmo ser um patrimônio nacional?
E quem a conhece, pode estar seguro em dizer que não, que não deveria ser.
Sobre essa questão, Lody nos contou uma historinha dele mesmo... Um dia ele precisava de umas maletas de couro rústico, e decidiu ir a feira de Caruaru para comprar (nem pensou em “procurar”, afinal, isso é a cara de Caruaru..!) tais maletas. Chegando lá, procurou, procurou, procurou, procurou mais e mais. Procurou até cansar, e desistiu.
Voltou com as mãos e o coração vazio. Como seria possível, uma feira que ele mesmo conheceu há 20 anos atrás que ainda tinha a característica de feira, hoje – quando é considerada Patrimônio Nacional – não se encontra um simples artigo que quiçá, nasceu lá!
Com essa historinha, podemos ver um pouco de quão mudou a essência dessa feira. Para começar o próprio nome “feira” é totalmente errôneo, feira é uma coisa efêmera, que passa, que tem um dia na semana por exemplo, onde podemos encontrar um carneiro à venda, um jerimum, variados tipos de feijão, uma calçada quase toda tomada por cachos de banana, e coisas do tipo. E a feira de Caruaru, para começar, é permanente, e tem mais artigos de confecção e “troços importados” que qualquer outra coisa característica de uma feira. Isso é um mercado! Jamais pode-se chamar, hoje, de feira, talvez tenha sido um dia, antes de sua “nacionalização”.
Não que a nacionalização seja culpada por isso, mas que ajudou, ajudou. Hoje você anda na feira e vê produtos importados de todo lugar do mundo, vê Jeans com lavagens, com etiquetas não sei das quantas, e não vê mais uma calça de tecido de saco, vê uma sandália com salto e strass, e não vê mais sandálias rasteiras de couro, vê hamburgers e hot-dogs com Coke, e não encontra uma macaxeira com carne de bode e caldo de cana, você pode até encontrar um bolsa Prada, (!!) mas assim como o Lody, não encontra uma simples maleta de couro.
E principalmente vê poucos artesãos na feira! Artesãos que trabalham com o barro, que vivem do barro, que surgiram do barro (e mesmo que não sejam o “Vitalino”, que dizem ser, são no fundo um João, uma Maria que dominam aquela arte).


E por falar em artesãos, existe no Alto do Moura uma moça chamada Marriete, filha de Zé Caboclo, que era amigo de Vitalino e artesão, que desde pequena trabalha com o barro. O que chama atenção para o trabalho da Marriete, é o que ela retrata. Nos trabalhos dela você não vê mais o imaginário nordestino retratado, na vê mais um acontecimento “especial” que vai denunciar (leia-se este denunciar no bom sentido) a ambientação da cena; ela vai retratar o quotidiano, vai retratar o dia-dia, vai mostrar uma menina aguando o jardim, vai mostrar uma avó lendo histórias para seus netinho numa cadeira de balanço, e os netinhos, sentados à sua frente, no chão. Vai fazer um trabalho diferenciado, começa a mudar a temática dessa arte, mas ainda mantém as cores por exemplo. A Marriete, hoje não faz mais seus trabalhos para vender na feira, ou no Alto do Moura, faz apenas s
ob encomenda, o que justifica não se encontrar mais suas peças à venda, e muitas delas saindo do país.

Isso sem falar na regulamentação da profissão de artesã, que Sr. Manoel vem lutando há tanto tempo. Sem falar na poluição que assola o Rio que passa o Caruaru, o Rio Ipojuca. E sem falar nas injustiças com relação aos diretos autorais que a família de Vitalino sofre até hoje...

Uma coisa é certa, se as peças passarem a serem assadas no forno elétrico, mais uma vez ( assim como aconteceu com a feira), a alma de uma tradição de Caruaru, vai se perder em prol da “modernização, industrialização” do povo.
E o tocador de pífanos retratado (talvez) ainda nas mesmas cores, só vai ter a cor, vai estar sem vida, sem alma, sem sua essência.

Um comentário:

Niamm disse...

yo pensé que eso solo sucedía en méxico!!!