segunda-feira, 24 de setembro de 2012

À casa que faz farinha na minha memória.

Parece que alguns lugares guardam pra sempre algumas memórias.
Só de pensar em certos lugares ou sentir certos cheiros, carradas de memórias invadem minha cabeça e chego a ter medo do tanto que sinto aquelas memórias vivas dentro de mim. é como se por um segundo, eu pudesse estar lá novamente, e pudesse ficar presa no tempo passado. Por isso o medo de pensar demais nelas.

Outro dia sonhei com o caminho que separa a cada de minha vó, da Casa de farinha dela. Sonhei no estilo memórias do filme brilho eterno de uma mente sem lembrança.

Parecia que eu era criança novamente, com todos meus primos, estava naquele lugar brincando de alguma coisa que nos fazia correr em volta da enorme casa da minha vó. Quando me cansei, fui ao caminho da casa de farinha, caminhando como quem caminha pra um lugar que quer muito rever. Já não era a criança que brincava com as outras, era uma mulher de 24 (ou 25) anos, que se dirigia à um lugar que florescia de memórias suas. Tinham as palmas, as pés de laranja, as galinhas escondidas, o pé de mamão, acerola, limão...
e pra entrar, eu batia na porta de baixo (era porta e janela) e ficava na ponta do pé pra alguem me ver e vir abrir, pois minha mão passasava longe de alcançar o ferrolho. De dentro, a casa de farinha, sem energia elétrica, era iluminada apenas pelas frexas de luz do sol que rasgavam a escuridão que tinha cheiro de mandioca e esquentava mais do que o próprio inferno, como dizia minha tia fresca, sobre aquela casa de farinha. Era quente pra burro, mesmo! Lembro que num dos cantos, tinha um grande tabuleiro redondo de pedra, de uns 15m de diâmentro, onde se colocava a farinha pra secar, ou algo do tipo. Esse tabuleiro redondo tinha cerca de 1,5m de altura e de baixo dele, colocava-se a lenha, ou seja, era o forno de "assar" a tal da farinha. 
E nesse mesmo forno, quando não havia farinha assando, a gente colocava um banquinho, e subia lá. Só pra ter uma ângulo com-ple-to do lugar.

E as máquinas que tinham ai dentro da casa de farinha? umas qe tinham 3 ou 4 vezes minha altura, com engrenagem pra lá, engrenagem  pra cá...nunca entendi direito. Mas parecia mágica o que elas faziam.

Foram vários finais de semana que participei de tal processo de fazer farinha. Claro, como criança curiosa, atrapalhava muito mais que ajudava, mas o prazer de descobrir aquilo tudo e ajudar a fazer a tal da farinha, fazia com que minha mãe até deixasse eu ir pra lá as vezes.
Descasquei algumas mandiocas, ralei outras e até mexi a farinha que tava no forno assando. E só voltava feliz quando voltava com a farinha quentinha numa trouxa de pano de prato pra levar pra casa, como a farinha que nós (eu e minha irmã - sempre) ajudamos a fazer.

E nesse caminho de volta, com a farinha na mão, olhava pras palmas e sempre pensava inquieta e revoltada:
"como as vacas podem comer esse negócio cheio de espinhos??"






Acho que hoje, entendo o porque das vacas comerem palmas e até entendo como gostava tanto daquele lugar quando criança.

Só não entendo como é possível que muitas coisas sejam muito belas, quando apenas em nossas memórias.



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